quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Deus Transcendente, Imanente e Transparente



É típico da cultura ocidental imaginar Deus com uma fisionomia de Merlim: barba longa e branca, vestimentas longas e cajado em sua mão. Essa imagem trás em sua sombra um Deus que é imagem do próprio homem e distante de nossa realidade prática. Importa hoje depois de muitas criticas sobre um Deus idealizado no mundo ocidental (Nietzsche, Marx e Freud) não mais falar “sobre” Deus, mas sentir Deus no espírito da realidade, não mais falar “para” Deus, mas falar “junto” a Deus no chão da existência.

Precisamos ter uma perspectiva correta: não podemos combater as imagens idealizadas com novas imagens, não podemos ter uma experiência do Divino negando sistematicamente todas as representações, precisa-se atravessa-las e assim supera-las. Mas como experimentar Deus em nossa realidade de maneira global? Há três experiências do divino que devemos levar em consideração:

Transcendência.

A primeira experiência nos faz sentir Deus como superior a tudo que podemos imaginar, é o totalmente Outro (1Tm 6,16). É o mistério essencial que habita e desborda o conhecimento, quanto mais conhecemos mais ele permanece mistério no conhecimento. Ele é sempre maior, se revela velando-se e quanto mais pensamos que conhecemos menos o conhecemos. Nas palavras de santo Agostinho: “Por mais altos que sejam os vôos do pensamento, Deus está ainda para além. Se o compreendeste, não é Deus. Se imaginaste compreender, compreendeste não Deus, mas um representação de Deus. Se tens a impressão de tê-lo quase compreendido, então foste enganado por tua própria reflexão[1].”

A transcendência nos ensina que Deus esta presente na realidade da nossa existência, mas sempre que experimentamos ele é inesgotável, fonte de Água que nunca acaba, sempre tem mais e mais. É um horizonte que nos ilumina, sentimos seu calor, caminhamos para alcançá-lo e ele sempre esta além.

Há um perigo na parcial compreensão desta experiência, é o perigo de isolar, de forma racional, Deus fora da realidade. Perigo de tirar Deus do mundo e ficarmos em um mundo sem Deus. Esse Deus que esta fora do mundo não se pode experimentar, ele se torna objeto de revelação, a irrupção de Deus no mundo que é manifesto em doutrinas e ensinos racionais. É um objeto de fé puramente intelectual, um Deus do ratio sem pathos, sem simpatia a humanidade.

Essa compreensão traz conseqüências desastrosas para no pratica de fé, pois não experimenta Deus na vida, mas sobre a vida. A fé ao invés de nascer no coração da vida está sobreposta a ela. A igreja comparece então como instituição que defende e guarda essas verdades reveladas e na proclamação de princípios morais que estão distantes da concertes da existência. Isso gera mais peso e infelicidade aos fiéis, que têm que suportar os dramas da vida e o fardo do moralismo religioso.

Imanência

A segunda experimentação é a de Deus como totalmente íntimo. Ele está radicalmente no coração de todas as coisas, tudo que vemos, que tocamos, que sentimos e refletimos está possuído desse mistério Divino. Nada é obstáculo para sua presença, nem o próprio inferno.

Deus está radicalmente presente em tudo, mas não aniquila nem substitui o mundo. Cada coisa possui sua legítima autonomia e consistência no mundo.Entretanto, há uma forma de experimentar Deus no mundo como se Deus fosse uma causa segunda junto as coisas imanentes a existência. Nessa imanência o mundo deixa de ser um mundo vazio do sagrado, o vemos em tudo sem Ele ser tudo, é um Ente criador do céu e da terra, onipotente que está ao lado, dentro e no coração de todas as coisas.

Nessa concepção corre-se o risco, de confundir Deus com a matéria (panteísmo), e de confundir as imagens e vontades humanas com o próprio Deus (antropomorfismo).Nessa confusão pode se justificar vontades humanas como sendo vontade de Deus, usá-Lo para manter privilégios de alguns, a religião se torna ópio do povo.
Para entender é preciso saber que mesmo imanente ao mundo Ele não é o mundo, está com e além ao mesmo tempo. Ele não se esgota nunca. “Ó Deus! Vós sois amor, mas um outro amor.! Ò Deus! Vós sois justiça, mas uma outra justiça! Rezava um teólogo Francês.

Transparência

Com o transcendentalismo desenfreado corre-se o risco de tirar Deus do mundo. Com o exclusivismo da imanência corre-se o risco de confundir o mundo com Deus e negar a transcendência Divina. Esse impasse aparece pois as visões são colocadas de maneiras opostas e excludentes. Como sair desse impasse?

Para solucionar esse dilema é preciso entender a transparência de Deus. Nem só existe transcendência, nem só imanência, mas as duas se unem na transparência. Como diz o são Paulo em sua carta a igreja de Éfeso: “Há um só Deus Pai de todos, que está acima de tudo {transcendência},por tudo {transparência}e em tudo {imanência}” ( Ef 4,6).

Existe uma categoria intermediária entre transcendência e imanência: a transparência.Essa categoria não exclui, mas inclui. Transparência significa a presença da transcendência dentro da imanência. Significa a presença de Deus dentro do mundo e o mundo dentro de Deus. Deus é um Deus concreto, pois não aparece fora do mundo, mas dentro dele sem se exaurir como se fosse uma peça do mundo.

Essa maneira de experimentar pode ser entendida com o termo chamado de panenteísmo ( filologicamente significa: tudo em Deus e Deus em tudo), que não deve ser confundido com panteísmo, pois este não faz diferença de criatura e criador.

Considerações

Podemos correlacionar os tópicos acima para consideração da teologia prática. Há duas dimensões que se manifestam no humano. Primeiro é a dimensão de finitude, o homem agarrado ao chão da existência e fragilidade. Segunda é a dimensão da auto-transcendência, com o pensamento habitamos as estrelas, refletimos sobre tudo, criamos tecnologia e plasmamos as idéias.

Esses dois pólos do humano não podem se opor no solo de sua caminhada, não podemos criar teologia apenas no exercício intelectual da transcendência sem considerar o pólo da fragilidade humana e suas necessidades temporais, e principalmente sua dependência do próximo. É preciso que a experimentação de Deus como transcendente nos inspire a refletir, que experimentação de Deus como imanente nos leve a sentir a realidade e fragilidade mundo o qual somos habitantes, e a experimentação de Deus como transparente una nossa duas dimensões levando-nos a uma TEO-LOGIA-PRAXIS.

Por um amigo, Wilian Lucas - Teólogo

3 comentários:

  1. Genial, fenomenal este documento me ajudou a compreender e produzir minha dissertação. Parabéns e obrigado.

    ResponderExcluir
  2. Genial, fenomenal este documento me ajudou a compreender e produzir minha dissertação. Parabéns e obrigado.

    ResponderExcluir