Tirar
fotografias é algo muito interessante e que particularmente gosto muito. Não
sou não das antigas, mas lembro com nostalgia dos tempos das máquinas que
tinham os filmes com quantidade de fotos e que entre uma foto e outra tínhamos
que girar um dispositivo para preparar o filme para a próxima posição. Cada dia
mais a fotografia têm sido utilizada e as tecnologias vêm avançando rapidamente
já sendo possível tirar fotografias com o áudio do momento. E o desejo de todos
é publicar nas redes sociais seus recortes da realidade impressa no retrato.
A
característica básica do retrato é ser um recorte. Uma pausa no tempo daquela
realidade vivida ou presenciada de forma a ser eternizada em uma imagem. Logicamente
um retrato não consegue traduzir tudo o que está naquela realidade histórica,
nem muito menos ser completamente fiel com a verdade do que está acontecendo em
ao vivo. A fotografia é também um ponto de vista escolhido pelo fotografo que
seleciona o que quer ressaltar daquele instante vivido. É uma perspectiva.
Vemos isto
acontecer com muita frequência nas imagens, nos retratos de Deus relatados na Bíblia.
A cada autor, ou a cada espaço de tempo, de cultura e de realidade histórica
dos autores bíblicos, um retrato de Deus é formado e com este as impressões do
autor sobre Deus são dadas e descritas. Logicamente não temos nos relatos
bíblicos imagens como a do exemplo dado, as imagens são dadas na escrita e no
decorrer da história bíblica. A grande dificuldade é o não entendimento desta
possibilidade e a comum prática de se escolher um ou outro retrato deste Deus,
a partir da perspectiva de algum autor e ditá-la como exclusiva e perfeita
leitura de Deus. Devendo ser aplicada, seguida e organizada dentro dos ritos
religiosos para melhor acesso e benevolência a Deus, já que o conhecemos,
sabemos como lidar com Ele.
É bem
possível que no início da Bíblia, nos tempos da criação, o retrato que os
israelitas fizeram para descrever Deus, foi pautada na imagem dos faraós
egípcios, imperadores da Assíria e Babilônia. Homens cruéis, reis absolutistas
que detinham todo o poder de vida e morte, criar ou abolir leis. Deuses que
mandavam matar apenas por não gostar de alguma apresentação feita a eles, ou
simplesmente a não devoção.
Em
continuidade, nas histórias de Noé e do Dilúvio as impressões de Deus estão
ligadas às suas reações com relação à perversidade do povo. Sua ira não seria
manifesta por falta de adoração e relacionamento, mas sim pela maldade,
impiedade e perversidade do homem. Aquele Deus reagia com ira e poder mortífero
à impiedade humana.
Nos contos
sapienciais de Jó e partes dos salmos. Aparece um Deus retribuicionista. Seu
humor, suas ações poderiam ser previstas a partir da prática humana. Sua ira
sempre era resultado das ações pecaminosas, em contrapartida, sua benevolência
ao ser humano era a congratulação por um ser piedoso, íntegro e correto.
Em meio a
tudo isso, os profetas apregoam um Deus que julga mais importante à fidelidade a
ele, manifesta em ações generosas aos pobres e desassistidos. Os sacrifícios no
altar, os ritos cúlticos e até o mero cumprimento da lei não era tão
importante, quanto o cuidado e atenção aos que necessitam e são oprimidos.
Mas esta
imagem muito presente em Oséias, Zacarias e outras não conseguiu subjugar a
primeira imagem do Deus que não deixa impune o pecador, mas exalta o justo.
Este retrato formou a cultura israelita e perdurou por muito tempo, tendo seu colapso
nos tempos pós-exílicos. Afinal, o povo de Israel já havia pagado seu pecado
com os exílios. Esdras já havia convocado seu povo a uma santificação e uma
reforma religiosa profunda, mas, as benesses divinas não vieram. O povo foi
espalhado, obrigado a se misturar a cultura grega que chegara com força, homogeneizando
cada vez mais o mundo antigo e trazendo outra forma de exílio aos que se
firmaram como remanescentes fiéis à doutrina israelita, sua língua, seu templo,
sua lei.
A última
imagem é exposta no texto bíblico como expressão exata de Deus. Em suas
próprias palavras ele afirma que só faz o que pai o enviou a fazer, e que todos
que o vissem estavam vendo a Deus. Este é Jesus. O auto-retrato de Deus à humanidade.
Este que se interessa por nós, entregou sua vida por amor à humanidade, vivendo
e dando-nos o padrão de humanidade a ser seguido, ao mesmo tempo em que
revelada o caráter de Deus. Este mostrou que o verdadeiro culto não é expresso
em um determinado lugar, ou com determinada roupa, classe, prática, pose ou
nada do gênero, mas sim, algo feito do espírito interno do homem e com a
lealdade que este exige.
Este
auto-retrato nos revela grandes e maravilhosas coisas de Deus. O grande
problema é que ele vem ao encontro de muitos daqueles retratos anteriores de
Deus. Retratos que já estavam consolidados na mente, no coração e na tradição
dos homens. Muitos não quiseram ver este retrato, mas preferiram ficar com os anteriores:
perspectivas humanas e formadas por contextos socioculturais e religiosos
também. Ainda hoje, muitos assim o fazem. É preciso entender as dificuldades de
termos um texto formado por diversas culturas, tradições e contextos sociais e
religiosos. Cada um com seu modo de ver, entender e se relacionar com Deus. Mas
que devem todos estes passar pelo crivo da vida e obra de Cristo, para que
possam se sustentar como pauta: autêntica e merecedora de crença e prática para
relacionamento com nosso Deus.
É preciso
cuidado, as imagens nos tentam a uma idolatria disfarçada e podem nos
encaminhar em caminhos que não levam a Deus, mas sim, ao próprio homem, seus
desejos, suas carências e seus bezerros de ouro.
Naquele que nos Um,
Joaze Lima, Pr.
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