
A história que vou contar é ao mesmo tempo sarcástica e medonha, mas o pior é que é verdadeira, e mesmo que você não seja homem e não saiba dessas sensações desastrosas que por vezes é engraçada, você saberá as peripécias que presenciamos do lado de fora.
Sou marido, amigo e cúmplice de uma mulher que deve passar um bom tempo indo ao toalete, diga-se de passagem: “um bom tempo” não quer dizer somente o tempo levado dentro do toalete, mas sim o número de vezes que ela vai lá. Logo, percebi que essa realidade era vivida por muitos, em seus lares, e essa característica tinha um ponto de encontro que em nosso caso foi o corredor de acesso aos toaletes do shopping. Vou chamar de toalete aquilo que por todos é chamado de banheiro, não para melhorar o português do meu texto, mas simplesmente para ser mesmo invasivo.
Após os primeiros e belos 25 minutos de passeio ao shopping, olhando vitrines e sonhando com a possibilidade de comprar algo, vem o aviso: “Vou ao toalete!”
_ Mas já? – respondo angustiado
_ É claro, estou com vontade! – ela retruca já em tom de indignação.
No momento, quem fica indignado sou eu, afinal, não faz uma hora estávamos em casa e pela demora para se arrumar e sair do toalete “caseiro” já tinha sanado suas necessidades.
Mas lá vamos nós, (nós, pois estou acompanhado de mais duas mulheres que inusitadamente concordam com o pedido). Resolvo ir também ao toalete, quem sabe faço alguma coisa: lavo o rosto, me olho no espelho, fico testando o secador de mão e de alguma forma o tempo passa e o terror do corredor é amenizado; Mas não há o que fazer e em menos de 2 minutos estou lá no tão famoso corredor! E é ali que as angústias tomam forma.
Talvez o pior de tudo é saber da demora e saber que não há o que fazer, então comecei a olhar para os lados, e percebi em volta de mim uns 5 homens: jovens, adolescentes, um senhor e até uma criança já desde cedo experimentando algo que o acompanhará pela sua vida. As feições são as mesmas! Não há o que olhar, em volta é só parede e homens com a mesma expressão! A cada olhada no relógio a dor cortante do tempo se vai e a sensação que ele parou.
Não há o que fazer! O celular já está quente de tanto ficar em nossas mãos sendo fuçados em todas as partes; talvez seja esse o melhor momento de descobrir as funcionalidades do aparelho, ou se não fazer aquela limpeza de contatos que há anos estão lá e não temos coragem para retirá-los. As mensagens são decoradas, e os jogos zerados e finalizados; de novo, àquela angústia volta a nos dominar!
Ninguém fala nada, não há expressões a não ser o desespero da porta se abrir e quem sai não é a sua esperada. Há também a expressão de alívio e desafogo no olhar daquele que tão esperançosamente vê-se se livrando daquele lugar ao vê-la sair!
A cada um que chega a posição também é bem parecida: Ele entra de cabeça baixa no corredor, como se fosse para uma sala de questionamento e dor! Depois de vê-la entrar encosta na parede dobra uma das pernas para trás e coloca o pé na parede, talvez seja uma posição confortável para os primeiros minutos e todos fazemos!
Também não podemos ficar olhando fixamente para porta, afinal, o que pensariam de nós quando nos visse olhar tão fixamente para aquele objeto de madeira que vai para lá e para cá, que hora nos trás dor, hora nos trás aflição, hora nos trás desespero e numa fração de segundo brilha como Sol e nos trás a alegria.
Em alguma dessas olhadas, vi que lá dentro tem um banco: de madeira, bem talhado e com vidro atrás!
_PRONTO! - Minha mente afirmou!
_ Ta explicado, agora entendi!
Mas não era só eu que havia visto, logo, as passadas de mão na cabeça e o desespero tomou conta de todos no corredor.
Estão lá, sentadas tentando olhar para trás e ver o cabelo! Ou então se perguntam umas para as outras como estão às costas, o cabelo, o vestido.
As respostas para as perguntas feitas no corredor, talvez nunca venham! Mas já dá para entender o porquê não dá para ir ao toalete sozinha! Já dá para entender como cabem tantas ao mesmo lá dentro!
Ao vê-la sair à alegria e a superação toma conta do meu ser, mas ao olhar para os outros vejo a agonia e a revolta de saber que as que esperam ainda estão lá dentro.
Em minha mente a verdade de saber que não será está à primeira nem a última vez! Vem junto com a clássica pergunta, diga-se de passagem, sem resposta satisfatória: “Por que demorou tanto?”
Mais um dentre tantos que esperam!
Deus Abençoe!
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